O que era para ser mais uma audiência pública protocolar na Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, no último dia 6 de junho, transformou-se num clamor social após o discurso sincero e surpreendente de uma estudante da rede pública. Maria de Fátima Pinheiro Melo, de apenas 9 anos, usou o microfone para fazer um apelo direto e emocionante: as crianças estão cansadas de comer soja.
"É todo dia… É cuscuz com soja, é pão com soja, é sopa com soja. Ninguém aguenta mais! Só está faltando ter suco de soja", declarou a menina, arrancando risos, aplausos e, principalmente, reflexão entre os presentes e milhares de internautas que assistiram ao vídeo, amplamente compartilhado nas redes sociais.
Viralização revela clamor coletivo
O vídeo da pequena Fátima, falando com a franqueza que só uma criança consegue ter, rapidamente ganhou as redes. Moradores de Juazeiro e pessoas de várias partes do país comentaram o caso, que passou a simbolizar um problema maior: a qualidade da merenda escolar e a escuta das vozes infantis nas decisões públicas.
Em meio às gargalhadas provocadas pelo desabafo inusitado, surgiu um sentimento de empatia coletiva — afinal, por trás do humor, havia um pedido urgente por dignidade alimentar.
Prefeitura reconhece dificuldades, mas nega exclusividade da soja
Diante da repercussão, a Prefeitura de Juazeiro do Norte se manifestou por meio de nota ao jornal Diário do Nordeste. A administração confirmou que enfrenta dificuldades no fornecimento de carne vermelha, o que compromete o planejamento do cardápio escolar. Contudo, negou que a soja seja a única fonte de proteína oferecida às crianças.
Apesar da explicação, o relato da estudante expôs o que pode ser uma prática comum nas escolas: a repetição excessiva de um único alimento, o que pode comprometer não apenas o valor nutricional das refeições, mas também o prazer de se alimentar.
Merenda escolar em xeque: o que está sendo servido às nossas crianças?
A fala de Fátima escancarou uma realidade muitas vezes ignorada — o cotidiano de milhares de estudantes da rede pública que, muitas vezes, têm na merenda a principal refeição do dia. A ausência de variedade e a presença constante de um único ingrediente levantam dúvidas sobre o equilíbrio nutricional das refeições oferecidas.
Especialistas ouvidos por veículos regionais alertam: uma dieta escolar equilibrada deve ser rica em diversidade de nutrientes, respeitando os hábitos culturais e o paladar das crianças. A repetição excessiva, além de nutricionalmente empobrecedora, pode afastar os alunos do prato.
Voz das crianças não pode ser ignorada
O apelo de Fátima se tornou símbolo. Mais do que um pedido por menos soja no cardápio, seu desabafo é um grito por mais atenção, mais cuidado e mais respeito com quem depende da escola para crescer com saúde e dignidade.
A audiência terminou, mas o debate está longe de acabar. A coragem de uma menina de 9 anos provocou mais do que risos: despertou consciência. E agora, cabe ao poder público agir.
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